quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A impessoalidade da guerra


Por Eric Hobsbawm

No século XX é inegável que surge uma nova impessoalidade da guerra, que tornava o matar e estropiar uma consequência remota de apertar um botão ou virar uma alavanca. A tecnologia tornava suas vítimas invisíveis, como não podiam fazer as pessoas evisceradas por baionetas ou vistas pelas miras de armas de fogo. Diante dos canhões permanentemente fixos estavam não homens, mas estatísticas – nem mesmo estatísticas reais, mas estimativas hipotéticas.
Rapazes delicados que certamente não iriam enfiar uma baioneta na barriga de uma jovem aldeã grávida podiam com mais facilidade jogar altos explosivos sobre populações civis.
As maiores crueldades de nosso século foram as crueldades impessoais decididas a distância, de sistema e rotina, sobretudo quando podiam ser justificadas como lamentáveis necessidades operacionais.
Assim o mundo acostumou-se à expulsão e matança compulsórias em escala astronômica, fenômenos tão conhecidos que foi preciso inventar novas palavras para eles: apátrida, genocídio.

Trecho adaptado de “A era dos Extremos – O breve Século XX” - pág. 57

Alice In Chains - Rooster

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Caracterização da paisagem geográfica segundo o vocalista do Aerosmith


Por Steven Tyler

Em Manhattan, vivíamos na rua 124 com a Broadway, perto do Teatro Apollo. Harlem, cara. Se os três primeiros anos de sua vida são os mais informativos, então é certo que eu precisava ouvir aquela música e me inspirar no barulho vindo do teatro. Aquilo tinha mais alma que a igreja de São Pedro.
Alguns anos atrás voltei ao Apollo e vi o parque onde minha mãe me levava de carrinho. Minha primeira memória visual é aquele parque: árvores e nuvens por cima da minha cabeça, com se eu estivesse flutuando por cima da Terra. Ali estou eu, uma projeção astral de dois anos.
Com quatro, lembro de levar uma garrafa de quatro litros de leite, caminhar de mãos dadas com minha mãe por passagens e corredores do porão de nosso edifício e pelos túneis dos edifícios vizinhos onde estava a máquina de leite. Eu pensava estar... sabe deus onde. Eu poderia estar em marte. Ah, era o misterioso mundo da infância, onde você é sempre levado pela mão de alguém através de alguma passagem escura em direção a um mundo novo à espera de ser explorado pela imaginação super ativa da criança.

Trecho adaptado da biografia de Steven Tyler “O barulho na minha cabeça te incomoda? – Uma memória feita de Rock´ n´ Roll” – 2011 – Benvirá – SP


Os doze mandamentos



Por Sidney Sheldon

Vamos falar sobre os milagres. A bíblia está cheia de milagres, e alguns foram maravilhosos. As histórias passam de geração em geração, por dois mil anos. Se são verdadeiras ou não, é uma coisa que você mesmo pode decidir. Mas não pode deixar de admitir que são emocionantes.
Vocês já ouviram falar dos dez mandamentos? A história conta que Moisés desceu da montanha com duas tábuas de pedra dadas por Deus, e nelas estavam escritos dos dez mandamentos.
Vou lhes revelar um segredo. Essa história da bíblia não é toda verdadeira. As pessoas em geral ignoram, mas o fato é que havia doze mandamentos. O que aconteceu foi que Moisés carregava três tábuas de pedra. Mas tropeçou e deixou cair uma, que se espatifou, por isso só restaram dez. Ele se sentiu embaraçado demais para contar aos outros.
Os dois mandamentos extras são: Nunca dirás uma inverdade; Não farás mal a teu semelhante. Os outros dez são bem conhecidos. Moisés disse a seu ovo que quem violasse aquelas regras seria seriamente punido.
Esse é o lado de Moisés. Mas vou contar algumas histórias sobre pessoas que violaram os mandamentos de Deus. E o que a aconteceu com elas? Tornaram-se ricas, famosas e felizes.

Adaptação do capítulo 1 do livro “Os doze mandamentos” de Sidney Sheldon


domingo, 13 de janeiro de 2013

Lugar - Mais que um conceito geográfico


Entre os conceitos básicos da Geografia (paisagem, espaço, território, etc.) o mais complicado de explicar, sem dúvida, é o lugar. Está escrito assim lá na Wikipédia: “A ideia de lugar é muito abrangente, pois faz parte tanto do senso comum quanto do conhecimento científico. Na geografia, o termo lugar já foi empregado de muitas formas, pois cada corrente de pensamento geográfico o define de um modo distinto".
O lugar é totalmente pessoal e abstrato. Cada um atribui um significado diferente a um determinado lugar. Toda vez que vou à Campo Mourão – PR eu preciso passar pela rua onde morei. A casa em que vivi não existe mais. Nem mesmo o imponente pé de Santa Bárbara está lá. Mas passar por ali é como um ritual.
Já passei por inúmeras vezes na rua onde minha esposa cresceu em São Pedro do Ivaí – PR. Também é um ritual, um culto ao passado. A paisagem mudou, as pessoas mudaram, mas o lugar é o mesmo. É diferente de ver uma fotografia ou assistir um vídeo de família. Estar fisicamente no lugar é que dá significado ao conceito.
Quando vou explicar este conceito aos alunos do sexto ano do ensino fundamental faço com eles este exercício. Eles ainda são jovens, mas descrevem lugares que para eles são especiais, os quais para outras pessoas não têm significado algum.
Este é um dos motivos que torna a Geografia tão apaixonante. As pessoas pintam quadros de paisagens que já não existem. Mas o lugar, este sempre existe, eternizado em telas, fotografias e músicas.

Momento raro dos Titãs - Música: Fazendinha