domingo, 25 de março de 2012

A globalização segundo Gilberto Gil

De Saveiro leva uma Encarnação
Antes mundo era pequeno/Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande/Porque Terra é pequena

Gil não está dizendo que o mundo mudou de tamanho. O que ele faz é uma analogia entre as distâncias que o ser humano podia percorrer antes do grande avanço dos meios de transporte. O mundo neste caso refere-se ao pequeno recorte de espaço geográfico onde vivia uma comunidade, que não podia ir longe demais, já que o planeta é imenso. Hoje os meios de transporte atingiram um nível de tecnologia onde somos capazes de percorrer grandes distâncias em pouco tempo, como se a imensidão da Terra não fosse algo tão intransponível.

Porque Terra é pequena/Do tamanho da antena/Parabolicamará
Ê volta do mundo, câmara/Ê, ê, mundo dá volta, camará

Além dos meios de transporte, Gil obviamente está falando também sobre o grande avanço dos meios de comunicação, usando a antena parabólica como símbolo da integração das culturas. O termo camará, anexado na parabólica, mistura a modernidade com a tradição da capoeira, talvez fazendo alusão ao fato de que tal desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação não beneficiou todos. Mas esta é só uma das várias interpretações.

Antes longe era distante/Perto só quando dava
Quando muito ali defronte/E o horizonte acabava

A globalização encurtou simbolicamente as distâncias físicas, o horizonte não é mais o limite da imaginação. O interessante é que o avanço dos meios de comunicação não necessariamente fez com que as pessoas percorressem o mundo fisicamente. Muitas das viagens são feitas via parabólica, via internet, via telefone celular.

De jangada leva uma eternidade/De saveiro leva uma encarnação
De avião o tempo de uma saudade
Pela onda luminosa/Leva o tempo de um raio
Esse tempo nunca passa/Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça/Nem tá preso nem foge
Esse tempo não tem rédea/Vem nas asas do vento

Nestes versos Gil brinca com a relatividade do tempo. Não podemos controlá-lo, é ele quem dita o nosso ritmo neste mundo globalizado. As medidas de tempo que ele utiliza são abstratas: quanto vale uma eternidade? O que significa uma encarnação?
Como se mede uma saudade?

O momento da tragédia/Chico Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino

Apesar de todo o avanço tecnológico da globalização, a natureza do ser humano é frágil. Nestes versos ele cita as personagens da música “A jangada voltou só” de Dorival Caymmi. Talvez por isso diz que uma jornada de jangada leva uma eternidade. Já o saveiro, uma embarcação mais rápida, mas também rudimentar, o tempo é medido numa encarnação, que supostamente é menor que uma eternidade. (Esta frase parece bem o papo do Gilberto Gil mesmo!) Mas o que é a onda luminosa? Provavelmente ele quis falar da velocidade da luz, do inimaginável, do que o futuro dos avanços tecnológicos nos reserva.
Será que a Terra ainda pode ficar menor?

Veja neste blog outro post sobre Músicas

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