Existe a possibilidade de vida em outro lugar?
Por Marcos Torres
A concepção de mundo surge a
partir de nossas experiências. Primeiramente, no seio da família, aprendemos a
ler e agir no – e com o – espaço. Tal experiência logo extrapola a família e
ganha novos contornos com as pessoas da sociedade em que vivemos. Eis a criação
do lugar.
O tempo que passamos no lugar é
determinante para estabelecermo-nos no espaço, na vida. E quanto mais tempo
passamos em um lugar, mais difícil é pensar a vida em outro.
E nós, que, do nosso mundinho,
insistimos em julgar o mundo, tão mais vasto que o nosso canto...
Há, sim, a possibilidade de vida
em outro lugar. Mas para isso, o ideal é que existam amigos. E para que eles
venham a existir, no transcurso da vida devemos estar abertos a conhecer, ouvir
e respeitar o outro.
Do centro geográfico do Brasil,
próximo ao centro geodésico da América do Sul, percebo, aos poucos, que Tuan
estava certo ao afirmar que cada pausa no espaço torna possível que localização
se transforme em lugar.
Barra do Garças é muito mais que o centro geográfico do
Brasil, ou uma cidade onde a presença de Xavantes chama a atenção dos que
passam pelo seu centro. É mais do que uma área urbana cercada de belos morros e
cachoeiras, e vai além de ser um município com uma exuberante vegetação de
cerrado, capaz de presentear seus moradores com revoadas de araras e outros
lindos pássaros.
Barra do Garças é um lugar, onde
a impessoalidade das grandes cidades ainda não chegou. Onde você vai a padaria
tomar café da manhã e a atendente oferece um pedaço do bolo que ela vai comer
(– “Num custa nada, moço. Podi comê. É di graça!” – diz com a ingenuidade e
despretensão de quem vive no interior, e com o belo sotaque goiano-amineirado
que o povo da fronteira do Mato Grosso com Goiás tem). Onde as crianças ainda
brincam nas ruas, e onde os carros param antes da faixa para os pedestres
atravessarem.
É o melhor lugar do mundo? Claro
que não. Mas é um lugar. E isso é impossível de pensar apenas olhando um mapa,
ou tentando abstrair as fotos que o Google – ou qualquer outro canal de
disponibilização de imagens – possa oferecer.
Reprodução autorizada
via Facebook. Obrigado Marcos!
Abaixo, som de uma
banda matogrossense
Vanguart – A Patinha
da Garça
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