sexta-feira, 15 de março de 2013

Soviéticos no Afeganistão


Khala Rangmaal e os moalim sahib

Por Khaled Hosseini

Cabul, primavera de 1987 no hemisfério norte. Foi difícil para Laila prestar atenção à aula naquele dia. Assim, quando a professora a chamou para dizer quais eram as capitais da Romênia e de Cuba, Laila foi apanhada de surpresa. Os alunos chamavam a professora de Khala Rangmaal, Tia Pintora, pois quando esbofeteava um aluno fazia pose como um pintor usando um pincel.
A professora não usava maquiagem nem jóias. Não cobria a cabeça e não permitia que as alunas fizessem isso, já que para ela homens e mulheres são iguais sob todos os aspectos.
Khala Rangmaal dizia que a União Soviética era a melhor nação do mundo, juntamente com o Afeganistão. Na União Soviética, todos eram felizes, e isso aconteceria também no Afeganistão assim que os bandidos reacionários fossem derrotados.
Na parede, por trás da mesa de Khala Rangmaal havia um mapa da União Soviética, outro do Afeganistão e um retrato do último presidente comunista, Najibullah. Havia retratos de soldados soviéticos cumprimentando camponeses, plantando mudas de macieiras, construindo casas, sempre com um sorriso entusiasmado.
Ninguém ousaria mencionar na presença de Khala Rangmaal os boatos cada vez mais frequentes de que os soviéticos estavam perdendo a guerra, principalmente quando Reagan, o presidente dos EUA, tinha começado a armar os mujahedins com mísseis Stringer, para derrubar helicópteros soviéticos. Nem diriam que muçulmanos de todos os pontos estavam se aliando à causa afegã, inclusive ricos sauditas que vinham para o Afeganistão combater naquele jihad.
Laila, afinal disse: “Bucareste, Havana”. Khala Rangmaal perguntou: “E estes países são amigos ou não?”. Laila respondeu: “São, sim, moalim sahib. São países amigos”. Khala Rangmaal assentiu com um leve gesto de cabeça.

Adaptação do trecho do capítulo 16 de “A cidade do Sol” de K. Hosseini p. 102-4.

Mais sobre o livro A cidade do Sol em:

Aerosmith - Kings and Queens

2 comentários:

  1. Enfim, os Estados Unidos levou a "democracia" a esse pais, dando poder aos radicais religiosos e criando seus próprios monstros. Assim, todos ficaram felizes, cada um com o que queria, alguns com petróleo, outros com poder, e a maioria sem nada. Viva a "democracia" estadunidense.

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