Os dois pesos e as duas medidas
Por Samuel P. Huntington
O
Ocidente está tentando e continuará a tentar manter sua posição de preeminência
e defender seus interesses, definindo-os como os interesses da comunidade
mundial, para legitimar suas ações que na verdade interessam aos Estados
Unidos.
Tendo
conquistado a independência política, as sociedades não-ocidentais desejam se
libertar da dominação militar, cultural e econômica das sociedades ocidentais.
O
que incomoda são os hiatos entre os princípios ocidentais e as práticas
ocidentais. A hipocrisia, os dois pesos e duas medidas e os “porém não” são o
preço das pretensões universalistas. Promove-se a democracia, porém não se ela
for levar fundamentalistas islâmicos ao poder. Prega-se a não-proliferação em
relação ao Irã e à Coreia do Norte, porém não em relação a Israel. O livre
comércio é o elixir do crescimento econômico, porém não para a agricultura
(protecionismo). Os direitos humanos constituem uma questão com a China, porém
não com a Arábia Saudita.
As
aspirações universais (o bem para a “comunidade mundial”) da civilização
ocidental, o poder relativo decrescente do Ocidente no pós-Guerra Fria, e a
postura afirmativa cada vez maior das outras civilizações (sínica, islâmica,
ortodoxa, latino-americana, hindu) levam a relações difíceis na atualidade
entre os diversos pólos de poder.
Adaptação de “O
Choque de Civilizações” pág. 228-9 de Samuel P. Huntington
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