O mito da democracia racial
no Brasil
publicado 29/08/2014 14:06
Fonte:www.cartacapital.com.br
É falso afirmar que o Brasil não
é um país racista. Viver nesta afirmação não se trata somente de “tapar o Sol
com a peneira”, mas de continuar permitindo um quadro social que favorece uma
população de elite e branca, ou, pelo menos, de pessoas que se identificam com
isso.
Não é
necessário nem citar dados para concluir que o racismo está estampado em nossa
bandeira: basta ver a situação dos negros a revelar que o racismo é
institucional e estruturante da nossa sociedade. A partir disso, não podemos
usar uma pontualidade como fato principal. Apesar de gravíssima, a atitude da
torcedora do Grêmio, que foi flagrada pelas câmeras de tevê chamando o jogador
Aranha, goleiro do Santos, de macaco, que deve ser responsabilizada, nada mais
é do que um efeito colateral.
Negros
são maioria no país e, em disparada, a maior população carcerária. São vítimas
de um genocídio perene e banalizado. Vivem em favelas e periferias em condições
subumanas. O acesso ao serviço público é ruim. Diariamente, são agredidos pelo
Estado de farda e por uma mídia fascista.
Negros e
negras sofrem com ataques racistas há gerações. Já passou do momento de
acontecer, no mínimo, uma reparação integral. A estigmatização é uma arma muito
poderosa, pois fortalece o preconceito, baixa a auto-estima de um povo e
minimiza os efeitos de uma diáspora.
O racismo
é uma prática institucional exposta nesta pátria amada. A primeira cena que
presenciei foi ainda muito cedo, acredito que tinha por volta de 12 anos. Eu,
meu irmão e um amigo. Saímos de casa com trajes para uma partida de futebol na
quadra de uma escola. Para chegar até lá, tínhamos de ir até a outra ponta da
favela. No meio do caminho, nos deparamos com quatro policias que apontavam
suas armas em direção a cada beco e viela.
Quando
eles nos viram, falaram baixinho para pararmos. Assutados, congelamos. Um
policial pediu para meu irmão e eu, que temos o tom de pele mais claro, sairmos
e seguraram nosso amigo, que foi agredido física e verbalmente.
Esse tipo
de prática seletiva acontece todos os dias dentro das favelas, e o País segue
na farsa do “ninguém sabe, ninguém viu”. Mesmo com casos explícitos que tomam o
cenário nacional, como Cláudia Ferreira, mulher negra, pobre
e moradora do subúrbio do Rio, que depois de baleada, foi arrastada por uma
viatura da Policia Militar, num ano de Copa do Mundo, momento em que
o País é vitrine e as forças amardas mandam um recado para a população negra e
pobre. Cena que remete à captura de um escravo por capitães do mato.
Enquanto os efeitos colaterais do racismos institucional
aumentam, práticas que transgridem leis e violam direitos humanos parecem não
causar indignação e colocam em questão a atuação da justiça quando se trata de
negro e pobre. Racistas não prendem racistas a não ser para salvar o próprio
racismo.
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