domingo, 30 de junho de 2013

Esfacelamento nas Bálcãs – O fim da Iugoslávia

Ortodoxos versus Católicos versos Muçulmanos – não necessariamente nesta mesma ordem.
Samuel P. Huntington

Um acirramento espetacular de identidades civilizacionais ocorreu na Bósnia, especialmente em sua comunidade muçulmana. Historicamente, sérvios, croatas e muçulmanos viviam juntos pacificamente como vizinhos, eram comuns os casamentos entre eles, as identificações religiosas eram tênues.
Dizia-se que os muçulmanos eram bósnios que não iam à mesquita, os croatas eram bósnios que não iam à catedral e os sérvios eram bósnios que não iam à igreja ortodoxa.
Quando a identidade iugoslava se desfez, as identificações religiosas intensificaram-se. O multicomunitarismo se evaporou e cada grupo definiu-se em termos religiosos.
Os sérvios da Bósnia se identificaram com a Grande Sérvia, a Igreja Ortodoxa Sérvia e toda a comunidade eslava ortodoxa. Os croatas da Bósnia passaram a ser nacionalistas radicais acentuando seu catolicismo ocidental.
Os muçulmanos, antes da guerra, se viam como europeus defensores de uma sociedade multicultural. Com o início dos conflitos surge o objetivo de criar uma república islâmica na península balcânica. O idioma bósnio foi promovido como distinto do servo-croata. O governo incentivou a religião islâmica e deu preferência aos muçulmanos nas promoções de pessoal. O exército bósnio ficou islamicizado.
A Rússia ajudou a Sérvia, as potências européias ocidentais ajudaram a Croácia, e os países islâmicos do norte da África e Oriente Médio ajudaram a Bósnia.

Adaptado de O choque de civilizações – p. 341-3 – de S. P. Huntington

Mais trechos de O choque de Civilizações, publicado neste Blog:

  • Conflitos que envolveram alternâncias de coexistência desconfiada e violência perversa.

  • Somente a arrogância ingênua pode levar os ocidentais a pressupor que os não-ocidentais ficaram “ocidentalizados” por adquirirem artigos ocidentais.

Miss Sarajevo - U2

A era dos conflitos

A violência é intermitente entre as civilizações
Samuel P. Huntington

Existem diversas explicações para o surto de conflitos que invadiram o globo no final do século XX. Uma delas, é que tais guerras tinham suas raízes na história. A violência é intermitente entre as civilizações, ou seja, ocorreu no passado e continua existindo nas lembranças atuais do passado, o que por sua vez, gera temores e inseguranças.
Muçulmanos e hindus no subcontinente indiano, russos e caucasianos no Cáucaso, árabes e judeus na Palestina, católicos, ortodoxos e muçulmanos nos Bálcãs, cingaleses e tâmiles em Sri Lanka, árabes e negros África afora. Todos eles são relacionamentos que, através dos séculos, envolveram alternâncias de coexistência desconfiada e violência perversa.
Um legado histórico de conflitos existe para ser explorado e utilizado por aqueles que encontram razões para isso. Nesses relacionamentos, a história está viva, pujante e aterrorizadora.

Adaptado de O choque de civilizações – p. 329-30 – de S. P. Huntington

Mais trechos de O choque de Civilizações, publicado neste Blog:

  • O mundo pós-Guerra Fria é um mundo de sete ou oito civilizações principais.

  • O cristianismo e o Islamismo têm uma visão teológica da história.

U2 - One



domingo, 9 de junho de 2013

O cidadão vigiado

Sob o pretexto da defesa de seus cidadãos, o governo americano acaba afrontando, também fora do país, valores caros à democracia que ajuda a difundir.
Vem de uma das democracias mais evoluídas do mundo, os Estados Unidos, um novo e desafiador debate sobre o direito do governo de monitorar a vida de cidadãos em nome da segurança nacional. As recentes denúncias da imprensa sobre o esquema de espionagem mantido pelo governo norte-americano, desde os ataques de 11 de setembro de 2001, põem em risco os compromissos e a credibilidade do presidente Barack Obama. Para além das fronteiras americanas, a violação de informações sobre telefonemas e conteúdos das redes sociais provoca insegurança também em outras nações, muitas das quais com democracias inspiradas em condutas americanas. A grande interrogação que a controvérsia provoca é perturbadora: se os Estados Unidos tudo podem, em nome da defesa interna, como condenar práticas semelhantes de regimes ditatoriais e mesmo de democracias?
O que está em debate é a zona de sombra que ainda confunde quem procura os limites da intervenção estatal na privacidade de pessoas comuns. Desde 2001, essa confusão vem sendo ampliada, com as ações autorizadas pelo chamado Código Patriótico, acionado logo após os traumas do 11 de setembro em Nova York. Ontem, o presidente Obama assegurou que a vigilância exercida pelos órgãos de inteligência, condenada inclusive por aliados, tem sido decisiva para o monitoramento do terrorismo. O que inquieta a todos é o conflito, admitido pelo governo, entre o respeito à Constituição e, ao mesmo tempo, a adoção de iniciativas que podem ser duvidosas, sob o ponto de vista legal e moral, de proteção aos cidadãos.
O governo optou pela proteção, com o pretexto, citado por Obama, de que não há como ter 100% de segurança com 100% de privacidade, sem nenhum inconveniente. Seria ingenuidade demais imaginar-se que a maior potência mundial, sob constante ameaça externa, poderia abrir mão de mecanismos de defesa que incluem o monitoramento da circulação de informações. O dilema diante do presidente é bem mais complexo, porque diz respeito ao alcance de uma espionagem que não se limita a vigiar suspeitos e acaba por atingir indiscriminadamente todos os americanos.
O presidente assumiu, desde o primeiro mandato, o compromisso com uma transparência que, sabe-se agora, a Casa Branca defende apenas como retórica. A preservação dos interesses internos, que sustenta as espionagens, acaba por afetar bem mais do que a vida dos cidadãos dos EUA. O mundo, sob vigilância na internet, também se sente violado por atitudes que afrontam valores tão caros à democracia que os EUA defendem e ajudam a difundir.

Editorial publicado no site www.zerohora.com.br na data de 08/06/2013, na guia Opinião. Acesso em 10/06/2013

Born in the USA - Bruce Springsteen