A
política assume seu papel no ensino da Geografia. Outra vertente do movimento
de renovação da Geografia foi a chamada Crítica, Radical, ou ainda Marxista,
por ter como base teórica o materialismo histórico e dialético. Esta corrente
trouxe uma preocupação com as injustiças sociais e com os problemas ideológicos
e políticos, propondo uma Geografia, digamos, mais militante, lutando por uma
sociedade mais justa.
A
Geografia Crítica assume, principalmente nos anos 1980, um discurso político
explícito, não basta apenas descrever o espaço geográfico, há a necessidade de
transformá-lo.
Infelizmente
a Geografia Crítica ficou muito marcada por um discurso retórico, sem alcançar
a prática dos professores. Pode-se afirmar que essa geografia marxista
negligenciou a percepção de mundo ao tachar de idealismo inútil qualquer
explicação subjetiva e afetiva da relação entre sociedade e natureza que não
priorizasse a luta de classes. Por isso mesmo, perdeu espaço.
A
corrente da Geografia da Percepção também influenciou a Geografia escolar. Ela
se diferencia das demais correntes por se preocupar em verificar a apreensão da
essência, pela percepção e pela intuição. Sua base é a fenomenologia,
caracterizada por utilizar fundamentalmente a experiência vivida e adquirida
pelo indivíduo.
De
acordo com o geógrafo chinês Yu-Fu Tuan, a Geografia Humanística, como também é
chamada, procura entender o mundo a partir do estudo das relações do homem com
a natureza, bem como de seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do
lugar.
Há
hoje a necessidade de a Geografia pautar-se em explicações plurais que
dialoguem com outras áreas do conhecimento, trabalhando as relações físicas e
humanas concomitantemente, e as interações entre elas estabelecidas.
Altamente corrosivo, lago no
norte da Tanzânia mata e calcifica todas as aves e pequenos mamíferos que dão o
azar de cair em suas águas.
Por Juliana Tiraboschi
É como um enredo de filme de terror: animais desavisados caem em
um lago misterioso e são transformados em estátuas. Parece
ficção, mas a história é real e acontece no lago Natrão, na Tanzânia. Algumas
vítimas desse lago mortal foram registradas pelo fotógrafo britânico Nick
Brandt. O resultado está no livro “Across the Ravaged Land” (Através do Lago
Devastado, em tradução livre – sem versão em português). O nome do lugar já
explica parte da letalidade do lago. Natrão é um sal formado por carbonato de
sódio hidratado e bicarbonato de cálcio, que se depositou ali por meio de
cinzas vindas de vulcões. Os egípcios sabiam disso e usavam a substância em
processos de mumificação.
O natrão torna o ambiente do lago extremamente inóspito, com um
nível de pH muito alcalino, variando entre 9 e 10,5. Isso faz com que o Natrão
seja considerado o lago mais cáustico do mundo. Ou seja, ele é altamente
corrosivo. Além disso, a temperatura de suas águas pode chegar a 60oC. Um dos
poucos animais capazes de sobreviver no lago é uma espécie de tilápia adaptada
para suportar a alcalinidade e a alta temperatura. Surpreendentemente, o local
é o paraíso de flamingos que se alimentam de spirulina, um tipo de
cianobactéria que cresce nas margens do Natrão. As aves constroem seus ninhos
ali justamente porque o ambiente é tão agressivo à vida que acaba espantando
predadores. Mas, vez ou outra, alguns flamingos caem acidentalmente na água e
também acabam virando “pedra”. Segundo Nick Brandt, ninguém
sabe exatamente como os animais morreram. Uma hipótese é que os reflexos na
superfície do lago tenham confundido os animais, do mesmo jeito como pássaros
trombam com janelas de casas e prédios. Uma vez que são “capturados” pelas
águas letais do Natrão, os bichos morrem e ficam calcificados. “O sal alcalino
presente no lago ‘gosta’ de água e absorve toda a umidade, ressecando qualquer
coisa que entre em contato com ele”, afirma Ethan Kinsey, um dos participantes da
expedição de Nick Brandt, em seu blog. “Além disso, a alcalinidade atua como
uma substância antibacteriana, preservando os corpos da decomposição”, diz.
Encantado e surpreso pelo mórbido espetáculo dos corpos espalhados pelos
arredores do lago, Brandt reposicionou os cadáveres de modo que parecessem
vivos e os clicou, eternizando-os também em imagens.
Nick Brandt se encantou pela África Oriental quando desembarcou na
Tanzânia pela primeira vez, em 1995, para filmar o vídeo de “Earth Song”,
canção de Michael Jackson. A partir daí, o fotógrafo passou a dedicar-se também
à preservação da natureza. Em setembro de 2010, fundou a organização Big Life
Foundation, que luta contra a caça de elefantes, junto com o conservacionista
Richard Bonham. Seu novo livro fecha uma trilogia iniciada em 2000 e formada
pelas obras “On This Earth” (Nessa Terra) e “A Shadow Falls” (Uma Sombra Cai),
que ambiciona documentar a devastação e a matança de animais na África.
A Teoria Econômica Clássica é brilhante.
A ideia básica, formulada pelo filósofo escocês Adam Smith em 1776, é que o
mercado é a melhor maneira de determinar o valor das coisas. Ponha algo para
vender, espere até alguém aparecer querendo comprar e pronto: logo um preço
surgirá. Se a oferta aumentar, o preço cai, se a demanda subir, o preço sobe.
Simples, prático e genial. Mas, infelizmente, essa teoria contém um pequeno
erro. Pequeno, mas, se ele não for corrigido, o mundo acaba.
O erro de Adam Smith é que ele se
esqueceu de pensar que certas coisas não têm preço. Isso porque algumas coisas
têm mercados que movimentam dinheiro e outras não. Imagine uma árvore milenar,
crescendo sem dono no meio da Floresta Amazônica. Não há mercado nenhum em
funcionamento aí – dinheiro nenhum muda de mãos enquanto a árvore cresce e os
séculos passam. Mas, se formos até a floresta com uma serra, fatiarmos a
coitada em tábuas e colocarmos as ditas cujas para vender a R$ 5 o metro
linear, vai surgir um mercado. Alguém aparecerá querendo comprar e aí é uma
beleza: a economia se move, dinheiro circula, o PIB aumenta, o Brasil cresce.
Derrubar árvores aumenta o PIB, plantar árvores não.
A árvore crescendo majestosa no meio da
floresta não tem preço, mas isso não quer dizer que ela não tenha valor. Ela
tem – por exemplo, para os milhões de seres que habitam sua copa e curtem sua
sombra. Ou para as pessoas do futuro que sofrerão de doenças cuja cura está nos
genes de um desses seres. Ela tem valor para todos os habitantes da América do
Sul, já que as árvores amazônicas propulsionam uma “bomba biótica” – soltam
umidade na atmosfera e os ventos oceânicos empurram essa umidade para o
continente todo, garantindo as chuvas e, portanto, a fertilidade, do cerrado
aos pampas.
Não é um valor teórico – é concreto,
real. Se não houvesse a árvore, um monte de gente ia ficar mais pobre. Mas esse
valor é difícil de calcular e, portanto, os mercados não o enxergam. É como se
árvore fosse grátis. Se a árvore é grátis e a tábua custa R$ 5 o metro, segundo
as leis de Adam Smith, cria-se um incentivo para todo mundo derrubar árvores e
vender tábua a rodo (e rodo também). Até que, naturalmente, as árvores acabam.
Isso é um erro porque, ao final do processo, todos ficamos mais pobres.
O nome desse erro da economia é
“externalidade”, que é aquilo que não está computado na formação de um preço. O
maior problema do mundo hoje é que a economia está repleta de externalidades.
Segundo o economista indiano Pavan Sukhdev, da Universidade Yale, mais de 50%
dos ganhos das empresas na realidade são externalidades. Ou seja: a maior parte
da economia mundial não são lucros – são roubos. É alguém impondo um custo a
outro para fazer dinheiro para si próprio.
Por exemplo, dizem que a maneira mais
barata de produzir energia é queimando carvão e usando o calor gerado. O que a
economia não calcula é que a produção dessa energia gera um custo para o mundo
maior do que seu próprio valor. Segundo Pavan, para cada R$ 1 de energia que é
produzida com queima de carvão, impõe-se um custo de até R$ 3,50 para a
economia. Ou seja, se fizermos a conta direitinho, descobrimos que as usinas
termelétricas não produzem energia: elas queimam dinheiro.
O economista dos transportes Charles
Komanoff tem um outro exemplo. Segundo ele, a cada vez que uma pessoa anda de
carro em Nova York,
os outros habitantes da cidade perdem 3 horas e 15 minutos de suas vidas, no
trânsito. Cada novo carro na rua aumenta um tiquinho o congestionamento,
fazendo com que cada um dos outros carros percam alguns segundos. O que
Komanoff fez foi somar todos esses segundos. Descobriu que, quando um motorista
tenta economizar 5 minutos, a cidade perde mais de 3 horas. Não é à tôa que
hoje a velocidade média de um carro no trânsito em uma grande cidade é menor do
que no tempo das carroças movidas a boi.
E como eliminar as externalidades para
corrigir a escorregada de Adam Smith? O único jeito é incluir no preço das
coisas todos os custos e esperar que o mercado cuide do resto. Se o carrão que
gera trânsito custar mais, cria-se um incentivo para que se escolha veículos
menores. Se a tábua incluir no seu preço a sombra perdida e os bichos
desalojados, vai ficar mais barato comprar madeira reflorestada.
Vários países estão criando taxas para
matar externalidades. Claro que a última coisa que o Brasil precisa é de mais
impostos. Mas, e se todos os impostos atuais fossem eliminados e criássemos
todo um novo código tributário, do zero, com um único critério: eliminar
externalidades?
O primeiro passo é fazer contas: calcular
na ponta do lápis o preço exato de tudo que a economia esqueceu. Claro que não
vai ser fácil chegar a um acordo sobre o preço justo de coisas como sombra,
silêncio e vida humana, e é por isso que precisaremos de gente boa de números.
Pavan Suhhdev costuma dizer que são os contadores que vão salvar o mundo.
Aí bastará incluir no preço das coisas os
custos escondidos que elas têm. Muita gente vai chiar. Hábitos que costumamos
ver como baratos – comer carne, queimar gasolina, misturar cimento – vão ficar
bem mais caros. Mas aí é questão de tempo até uma nova geração de
empreendedores inventar opções alternativas – veículos que não poluem, comidas
que fazem bem, produtos que não destroem – por preços razoáveis. E aí o mercado
funcionará, do jeito que Adam Smith descreveu.
Este texto foi
publicado originalmente na Edição Dourada da SUPER – 111 Ideias Que Valem Ouro.
Várias nações africanas alcançam crescimento superior a 7% ao ano, porém, tal crescimento está baseado apenas na extração de recursos primários, que valem menos na exportação. Embora as taxas de crescimento sejam maiores que a média mundial de 4% ao ano, isto não representa algo realmente significativo em números absolutos, pois a África Subsaariana segue como uma das regiões mais pobres do planeta. Este quadro é agravado por inúmeros motivos. Dentre eles podemos destacar: os regimes ditatoriais, a corrupção, a falta de transparência do gasto do dinheiro público e a fragilidade das instituições políticas, que não possuem estabilidade democrática e não conseguem fazer uma justa distribuição da riqueza gerada. As guerras são outro problema grave, e ocorrem tanto pela disputa de poder como pelo controle das riquezas minerais. Em alguns países as nascentes de água doce são razão de conflito, além, é claro, das questões étnicas e religiosas. Fica difícil enxergar um quadro de melhora real em curto e médio prazo para a África. As potências econômicas da União Europeia, os EUA e recentemente a China, lucram horrores com a exploração do continente. Para estes governos imperialistas, uma distribuição da riqueza não interessa realmente. Isso sem comentar o lucro da indústria de armamentos com os inúmeros conflitos que ocorrem no continente africano.
Desde o início da crise da dívida, os governos europeus buscam equilibrar suas contas. Para isso utilizam os planos de austeridade, ou medidas de ajuste, que aumentam o valor dos impostos, cortam gastos públicos, e diminuem drasticamente os benefícios sociais. Essas medidas empobrecem a população, limitam o crescimento econômico e ampliam o desemprego, levando multidões às ruas em protesto. Enfraquecidos pelas reformas, vários dirigentes deixaram o poder, por perder sua sustentação paralamentar ou por derrotas eleitorais.
Os países atingidos pela crise de maneira mais séria passaram a ser identificadas pelo anacrônico Piigs (uma referência à porco em inglês) sendo estas as iniciais de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain). O primeiro país seriamente atingido pela crise foi a Grécia. O país pediu socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e aos órgãos oficiais da União Europeia, mas teve que fazer uma ampla reforma, as temidas, medidas de austeridade: aumento de impostos, privatizações, cortes nos direitos trabalhistas, demissão de servidores públicos, redução de salários e de aposentadorias. Tais medidas provocaram uma revolta social no país, com greves e protestos violentos. Tais medidas, porém, não surtiram efeito algum. O PIB da Grécia está em queda, e o desemprego já atinge um em cada quatro trabalhadores.
A situação na União Europeia continua tensa. Enquanto Grécia, Portugal e Irlanda são países periféricos da zona do euro, a situação da Itália e da Espanha tira o sono dos líderes europeus, pois o custo para salvar essas economias será bem maior. Leia também sobre o início da crise em 2008 nos EUA: http://geopesca.blogspot.com.br/2013/08/crise-o-estouro-da-bolha-imobiliaria.html
A atual crise na União Europeia está ligada aos problemas econômicos mundiais, iniciados no ano de 2008, nos Estados Unidos. Os governos europeus, tal como o americano, despejou trilhões de dólares/euros em dinheiro público para ajudar as empresas e os bancos à beira da falência.
Estas medidas desesperadas (algo bem contrário à doutrina neoliberal por eles difundida) fizeram com que a dívida desses países ficasse muito mais alta do que já estavam. O endividamento público elevado é problemático para a zona do euro, pois os países têm economias interligadas, e são obrigadas a seguir parâmetros rígidos para controlar a inflação e equilibrar o orçamento, ou seja, o equilíbrio entre o que se gasta e o que se arrecada.
Entre 2002 e 2008, com taxas de juros num patamar baixo, os bancos fizeram empréstimos de longo prazo a clientes sem boa avaliação como pagadores (subprimes). O crédito fácil intensificou a procura por imóveis, que tiveram os preços elevados. Com o cenário de inflação se instalando, o governo americano decidiu subir os juros. Com isso, a prestação dos financiamentos ficaram mais caras, levando muitos compradores pararem de pagar suas duplicatas. Isso provocou uma espécie de "efeito dominó": primeiro os bancos retomaram os imóveis; em seguida colocaram à venda, para cobrir os empréstimos; o aumento da oferta de imóveis derrubou o preço dos mesmos; mesmo vendendo os imóveis, os bancos não conseguiram recuperar o prejuízo. Acontece que muitos títulos negociados pelos bancos tinham como garantia os empréstimos feitos aos subprimes, e com a falta de pagamentos os títulos perderam seu valor na bolsa de valores. Esse processo ficou conhecido como o estouro da bolha imobiliária, em setembro de 2008, cujo marco foi a "quebra" de um dos maiores bancos de investimentos dos EUA, o Lehman Brothers. Em seguida, a crise espalhou-se pelo sistema financeiro mundial.