domingo, 17 de novembro de 2013

A Geografia Crítica

A Geografia Crítica
A política assume seu papel no ensino da Geografia. Outra vertente do movimento de renovação da Geografia foi a chamada Crítica, Radical, ou ainda Marxista, por ter como base teórica o materialismo histórico e dialético. Esta corrente trouxe uma preocupação com as injustiças sociais e com os problemas ideológicos e políticos, propondo uma Geografia, digamos, mais militante, lutando por uma sociedade mais justa.
A Geografia Crítica assume, principalmente nos anos 1980, um discurso político explícito, não basta apenas descrever o espaço geográfico, há a necessidade de transformá-lo.
Infelizmente a Geografia Crítica ficou muito marcada por um discurso retórico, sem alcançar a prática dos professores. Pode-se afirmar que essa geografia marxista negligenciou a percepção de mundo ao tachar de idealismo inútil qualquer explicação subjetiva e afetiva da relação entre sociedade e natureza que não priorizasse a luta de classes. Por isso mesmo, perdeu espaço.

A Geografia da Percepção

A Geografia da Percepção
A corrente da Geografia da Percepção também influenciou a Geografia escolar. Ela se diferencia das demais correntes por se preocupar em verificar a apreensão da essência, pela percepção e pela intuição. Sua base é a fenomenologia, caracterizada por utilizar fundamentalmente a experiência vivida e adquirida pelo indivíduo.
De acordo com o geógrafo chinês Yu-Fu Tuan, a Geografia Humanística, como também é chamada, procura entender o mundo a partir do estudo das relações do homem com a natureza, bem como de seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do lugar.

Há hoje a necessidade de a Geografia pautar-se em explicações plurais que dialoguem com outras áreas do conhecimento, trabalhando as relações físicas e humanas concomitantemente, e as interações entre elas estabelecidas.

domingo, 6 de outubro de 2013

Lago de pedra

Altamente corrosivo, lago no norte da Tanzânia mata e calcifica todas as aves e pequenos mamíferos que dão o azar de cair em suas águas.


Por Juliana Tiraboschi
É como um enredo de filme de terror: animais desavisados caem em um lago misterioso e são transformados em estátuas. Parece ficção, mas a história é real e acontece no lago Natrão, na Tanzânia. Algumas vítimas desse lago mortal foram registradas pelo fotógrafo britânico Nick Brandt. O resultado está no livro “Across the Ravaged Land” (Através do Lago Devastado, em tradução livre – sem versão em português). O nome do lugar já explica parte da letalidade do lago. Natrão é um sal formado por carbonato de sódio hidratado e bicarbonato de cálcio, que se depositou ali por meio de cinzas vindas de vulcões. Os egípcios sabiam disso e usavam a substância em processos de mumificação.
O natrão torna o ambiente do lago extremamente inóspito, com um nível de pH muito alcalino, variando entre 9 e 10,5. Isso faz com que o Natrão seja considerado o lago mais cáustico do mundo. Ou seja, ele é altamente corrosivo. Além disso, a temperatura de suas águas pode chegar a 60oC. Um dos poucos animais capazes de sobreviver no lago é uma espécie de tilápia adaptada para suportar a alcalinidade e a alta temperatura. Surpreendentemente, o local é o paraíso de flamingos que se alimentam de spirulina, um tipo de cianobactéria que cresce nas margens do Natrão. As aves constroem seus ninhos ali justamente porque o ambiente é tão agressivo à vida que acaba espantando predadores. Mas, vez ou outra, alguns flamingos caem acidentalmente na água e também acabam virando “pedra”. 
Segundo Nick Brandt, ninguém sabe exatamente como os animais morreram. Uma hipótese é que os reflexos na superfície do lago tenham confundido os animais, do mesmo jeito como pássaros trombam com janelas de casas e prédios. Uma vez que são “capturados” pelas águas letais do Natrão, os bichos morrem e ficam calcificados. “O sal alcalino presente no lago ‘gosta’ de água e absorve toda a umidade, ressecando qualquer coisa que entre em contato com ele”, afirma Ethan Kinsey, um dos participantes da expedição de Nick Brandt, em seu blog. “Além disso, a alcalinidade atua como uma substância antibacteriana, preservando os corpos da decomposição”, diz. Encantado e surpreso pelo mórbido espetáculo dos corpos espalhados pelos arredores do lago, Brandt reposicionou os cadáveres de modo que parecessem vivos e os clicou, eternizando-os também em imagens.
Nick Brandt se encantou pela África Oriental quando desembarcou na Tanzânia pela primeira vez, em 1995, para filmar o vídeo de “Earth Song”, canção de Michael Jackson. A partir daí, o fotógrafo passou a dedicar-se também à preservação da natureza. Em setembro de 2010, fundou a organização Big Life Foundation, que luta contra a caça de elefantes, junto com o conservacionista Richard Bonham. Seu novo livro fecha uma trilogia iniciada em 2000 e formada pelas obras “On This Earth” (Nessa Terra) e “A Shadow Falls” (Uma Sombra Cai), que ambiciona documentar a devastação e a matança de animais na África.

domingo, 22 de setembro de 2013

O Grande Erro da Economia

Por Denis Russo Burgierman

A Teoria Econômica Clássica é brilhante. A ideia básica, formulada pelo filósofo escocês Adam Smith em 1776, é que o mercado é a melhor maneira de determinar o valor das coisas. Ponha algo para vender, espere até alguém aparecer querendo comprar e pronto: logo um preço surgirá. Se a oferta aumentar, o preço cai, se a demanda subir, o preço sobe. Simples, prático e genial. Mas, infelizmente, essa teoria contém um pequeno erro. Pequeno, mas, se ele não for corrigido, o mundo acaba.
O erro de Adam Smith é que ele se esqueceu de pensar que certas coisas não têm preço. Isso porque algumas coisas têm mercados que movimentam dinheiro e outras não. Imagine uma árvore milenar, crescendo sem dono no meio da Floresta Amazônica. Não há mercado nenhum em funcionamento aí – dinheiro nenhum muda de mãos enquanto a árvore cresce e os séculos passam. Mas, se formos até a floresta com uma serra, fatiarmos a coitada em tábuas e colocarmos as ditas cujas para vender a R$ 5 o metro linear, vai surgir um mercado. Alguém aparecerá querendo comprar e aí é uma beleza: a economia se move, dinheiro circula, o PIB aumenta, o Brasil cresce. Derrubar árvores aumenta o PIB, plantar árvores não.
A árvore crescendo majestosa no meio da floresta não tem preço, mas isso não quer dizer que ela não tenha valor. Ela tem – por exemplo, para os milhões de seres que habitam sua copa e curtem sua sombra. Ou para as pessoas do futuro que sofrerão de doenças cuja cura está nos genes de um desses seres. Ela tem valor para todos os habitantes da América do Sul, já que as árvores amazônicas propulsionam uma “bomba biótica” – soltam umidade na atmosfera e os ventos oceânicos empurram essa umidade para o continente todo, garantindo as chuvas e, portanto, a fertilidade, do cerrado aos pampas.
Não é um valor teórico – é concreto, real. Se não houvesse a árvore, um monte de gente ia ficar mais pobre. Mas esse valor é difícil de calcular e, portanto, os mercados não o enxergam. É como se árvore fosse grátis. Se a árvore é grátis e a tábua custa R$ 5 o metro, segundo as leis de Adam Smith, cria-se um incentivo para todo mundo derrubar árvores e vender tábua a rodo (e rodo também). Até que, naturalmente, as árvores acabam. Isso é um erro porque, ao final do processo, todos ficamos mais pobres.
O nome desse erro da economia é “externalidade”, que é aquilo que não está computado na formação de um preço. O maior problema do mundo hoje é que a economia está repleta de externalidades. Segundo o economista indiano Pavan Sukhdev, da Universidade Yale, mais de 50% dos ganhos das empresas na realidade são externalidades. Ou seja: a maior parte da economia mundial não são lucros – são roubos. É alguém impondo um custo a outro para fazer dinheiro para si próprio.
Por exemplo, dizem que a maneira mais barata de produzir energia é queimando carvão e usando o calor gerado. O que a economia não calcula é que a produção dessa energia gera um custo para o mundo maior do que seu próprio valor. Segundo Pavan, para cada R$ 1 de energia que é produzida com queima de carvão, impõe-se um custo de até R$ 3,50 para a economia. Ou seja, se fizermos a conta direitinho, descobrimos que as usinas termelétricas não produzem energia: elas queimam dinheiro.
O economista dos transportes Charles Komanoff tem um outro exemplo. Segundo ele, a cada vez que uma pessoa anda de carro em Nova York, os outros habitantes da cidade perdem 3 horas e 15 minutos de suas vidas, no trânsito. Cada novo carro na rua aumenta um tiquinho o congestionamento, fazendo com que cada um dos outros carros percam alguns segundos. O que Komanoff fez foi somar todos esses segundos. Descobriu que, quando um motorista tenta economizar 5 minutos, a cidade perde mais de 3 horas. Não é à tôa que hoje a velocidade média de um carro no trânsito em uma grande cidade é menor do que no tempo das carroças movidas a boi.
E como eliminar as externalidades para corrigir a escorregada de Adam Smith? O único jeito é incluir no preço das coisas todos os custos e esperar que o mercado cuide do resto. Se o carrão que gera trânsito custar mais, cria-se um incentivo para que se escolha veículos menores. Se a tábua incluir no seu preço a sombra perdida e os bichos desalojados, vai ficar mais barato comprar madeira reflorestada.
Vários países estão criando taxas para matar externalidades. Claro que a última coisa que o Brasil precisa é de mais impostos. Mas, e se todos os impostos atuais fossem eliminados e criássemos todo um novo código tributário, do zero, com um único critério: eliminar externalidades?
O primeiro passo é fazer contas: calcular na ponta do lápis o preço exato de tudo que a economia esqueceu. Claro que não vai ser fácil chegar a um acordo sobre o preço justo de coisas como sombra, silêncio e vida humana, e é por isso que precisaremos de gente boa de números. Pavan Suhhdev costuma dizer que são os contadores que vão salvar o mundo.
Aí bastará incluir no preço das coisas os custos escondidos que elas têm. Muita gente vai chiar. Hábitos que costumamos ver como baratos – comer carne, queimar gasolina, misturar cimento – vão ficar bem mais caros. Mas aí é questão de tempo até uma nova geração de empreendedores inventar opções alternativas – veículos que não poluem, comidas que fazem bem, produtos que não destroem – por preços razoáveis. E aí o mercado funcionará, do jeito que Adam Smith descreveu.

Este texto foi publicado originalmente na Edição Dourada da SUPER – 111 Ideias Que Valem Ouro.
Denis Russo Burgierman 12 de agosto de 2013
O Grande Erro da Economia




domingo, 18 de agosto de 2013

Crescimento Econômico na África Subsaariana


Várias nações africanas alcançam crescimento superior a 7% ao ano, porém, tal crescimento está baseado apenas na extração de recursos primários, que valem menos na exportação. Embora as taxas de crescimento sejam maiores que a média mundial de 4% ao ano, isto não representa algo realmente significativo em números absolutos, pois a África Subsaariana segue como uma das regiões mais pobres do planeta. Este quadro é agravado por inúmeros motivos. Dentre eles podemos destacar: os regimes ditatoriais, a corrupção, a falta de transparência do gasto do dinheiro público e a fragilidade das instituições políticas, que não possuem estabilidade democrática e não conseguem fazer uma justa distribuição da riqueza gerada. As guerras são outro problema grave, e ocorrem tanto pela disputa de poder como pelo controle das riquezas minerais. Em alguns países as nascentes de água doce são razão de conflito, além, é claro, das questões étnicas e religiosas. Fica difícil enxergar um quadro de melhora real em curto e médio prazo para a África. As potências econômicas da União Europeia, os EUA e recentemente a China, lucram horrores com a exploração do continente. Para estes governos imperialistas, uma distribuição da riqueza não interessa realmente. Isso sem comentar o lucro da indústria de armamentos com os inúmeros conflitos que ocorrem no continente africano.

Leia mais sobre o tema neste blog:
http://geopesca.blogspot.com.br/2012/11/senhor-da-guerra.html
http://geopesca.blogspot.com.br/2012/04/africa-subsaariana-quem-interessa.html

Leia sobre a Primavera Árabe no link abaixo:
http://geopesca.blogspot.com.br/2012/10/primavera-arabe.html


sábado, 10 de agosto de 2013

Medidas de Austeridade na União Europeia

Desde o início da crise da dívida, os governos europeus buscam equilibrar suas contas. Para isso utilizam os planos de austeridade, ou medidas de ajuste, que aumentam o valor dos impostos, cortam gastos públicos, e diminuem drasticamente os benefícios sociais. Essas medidas empobrecem a população, limitam o crescimento econômico e ampliam o desemprego, levando multidões às ruas em protesto. Enfraquecidos pelas reformas, vários dirigentes deixaram o poder, por perder sua sustentação paralamentar ou por derrotas eleitorais.
Os países atingidos pela crise de maneira mais séria passaram a ser identificadas pelo anacrônico Piigs (uma referência à porco em inglês) sendo estas as iniciais de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain). O primeiro país seriamente atingido pela crise foi a Grécia. O país pediu socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e aos órgãos oficiais da União Europeia, mas teve que fazer uma ampla reforma, as temidas, medidas de austeridade: aumento de impostos, privatizações, cortes nos direitos trabalhistas, demissão de servidores públicos, redução de salários e de aposentadorias. Tais medidas provocaram uma revolta social no país, com greves e protestos violentos. Tais medidas, porém, não surtiram efeito algum. O PIB da Grécia está em queda, e o desemprego já atinge um em cada quatro trabalhadores.
A situação na União Europeia continua tensa. Enquanto Grécia, Portugal e Irlanda são países periféricos da zona do euro, a situação da Itália e da Espanha tira o sono dos líderes europeus, pois o custo para salvar essas economias será bem maior.

Leia também sobre o início da crise em 2008 nos EUA:
http://geopesca.blogspot.com.br/2013/08/crise-o-estouro-da-bolha-imobiliaria.html

OBS: A primavera árabe também pode ser interpretada como uma das consequências da crise mundial. Leia sobre ela no link abaixo:
http://geopesca.blogspot.com.br/2012/10/primavera-arabe.html

Crise - O estouro da bolha imobiliária


A atual crise na União Europeia está ligada aos problemas econômicos mundiais, iniciados no ano de 2008, nos Estados Unidos. Os governos europeus, tal como o americano, despejou trilhões de dólares/euros em dinheiro público para ajudar as empresas e os bancos à beira da falência.
Estas medidas desesperadas (algo bem contrário à doutrina neoliberal por eles difundida) fizeram com que a dívida desses países ficasse muito mais alta do que já estavam. O endividamento público elevado é problemático para a zona do euro, pois os países têm economias interligadas, e são obrigadas a seguir parâmetros rígidos para controlar a inflação e equilibrar o orçamento, ou seja, o equilíbrio entre o que se gasta e o que se arrecada.
Entre 2002 e 2008, com taxas de juros num patamar baixo, os bancos fizeram empréstimos de longo prazo a clientes sem boa avaliação como pagadores (subprimes). O crédito fácil intensificou a procura por imóveis, que tiveram os preços elevados. Com o cenário de inflação se instalando, o governo americano decidiu subir os juros. Com isso, a prestação dos financiamentos ficaram mais caras, levando muitos compradores pararem de pagar suas duplicatas. Isso provocou uma espécie de "efeito dominó": primeiro os bancos retomaram os imóveis; em seguida colocaram à venda, para cobrir os empréstimos; o aumento da oferta de imóveis derrubou o preço dos mesmos; mesmo vendendo os imóveis, os bancos não conseguiram recuperar o prejuízo. Acontece que muitos títulos negociados pelos bancos tinham como garantia os empréstimos feitos aos subprimes, e com a falta de pagamentos os títulos perderam seu valor na bolsa de valores. Esse processo ficou conhecido como o estouro da bolha imobiliária, em setembro de 2008, cujo marco foi a "quebra" de um dos maiores bancos de investimentos dos EUA, o Lehman Brothers. Em seguida, a crise espalhou-se pelo sistema financeiro mundial.

Leia sobre a crise na União Europeia:
http://geopesca.blogspot.com.br/2013/08/medidas-de-austeridade-na-uniao-europeia.html