quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Migrações no Leste europeu

Onda de migração cresce na Europa


A Europa não consegue conter a maior crise migratória desde a Segunda Guerra. Somente em julho, um número recorde de 50 mil pessoas, a maioria da Síria, chegaram às costas da Grécia de barco, vindas da Turquia. Os países do velho continente buscam, cada um a sua maneira, tentar conter a enxurrada de imigrantes que chega diariamente ao continente.
Alguns ameaçam usar a força bélica, como a Bulgária, que enviou ontem blindados a quatro postos de fronteira com a Macedônia. A República Tcheca cogita pedir ajuda à OTAN. Na semana passada, a Macedônia decretou estado de emergência na fronteira e enviou forças especiais da polícia, que entraram em choque com cerca de mil imigrantes. Mais de duas mil pessoas entraram na Macedônia através da fronteira em apenas 24 horas. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) estima que o número de pessoas que cruzarão a divisa nas próximas semanas chegue a três mil por dia. Fica claro que o controle de fronteiras não é a solução, mas o sistema comum de Schengen não foi feito para comportar tanta gente.
O fluxo de migrantes que chega à Grécia e transita pela Macedônia para chegar à Alemanha ou ao Reino Unido tem evitado passar pela Bulgária, pois o governo búlgaro enviou militares e veículos blindados aos postos fronteiriços. O país também construiu uma barreira de 30 quilômetros na fronteira com a Turquia. O governo húngaro classificou como humilhante a maneira como a Comissão Europeia reparte os fundos para a crise. E pediu mais dinheiro da União Europeia para lidar com a onda crescente de imigrantes que atravessam os Bálcãs. Autoridades húngaras também estão instalando uma barreira de arame farpado ao longo da fronteira com a Sérvia, enquanto equipes de construção completam uma cerca com mais de três metros de altura. Mais de cem mil imigrantes, refugiados de conflitos ou da miséria no Oriente Médio e na África, entraram no país, que faz parte do espaço Schengen, em direção aos países mais ricos da Europa Ocidental.


Fonte: Reuters Brasil

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Muros da discórdia

Os muros que ainda dividem a população

Por Felipe Amorim, Opera Mundi

Há 25 anos, caía na Alemanha o Muro de Berlim. Para muitos, o episódio sinalizava o início de uma nova era, de expansão da globalização e diminuição das fronteiras — simbólicas e reais. Um quarto de século após a queda deste ícone da Guerra Fria, ainda persiste, espalhada pelo mundo, uma série de fronteiras muradas construídas para separar povos.

CISJORDÂNIA-ISRAEL: O Muro da Cisjordânia — ou “Muro da Vergonha”, como é chamado pelos críticos da ocupação israelense — começou a ser construído em 2002, período da Segunda Intifada, e separa Israel do território palestino da Cisjordânia. Na época, foi dito que o intuito era impedir a entrada de palestinos para prevenir atos de terrorismo. Os que se opõem à barreira denunciam que o muro é uma ferramenta utilizada por Israel para, além de interditar as negociações de paz por estabelecer unilateralmente novas fronteiras, também anexar gradualmente porções do território palestino, muitas das quais passaram a abrigar assentamentos israelenses. Atualmente, a parede de concreto, ferro e arame farpado tem cerca de 440 quilômetros de extensão — se a construção da barreira for finalizada, cercando todo o território da Cisjordânia, o muro se estenderá para aproximadamente 700 quilômetros.

ESPANHA-MARROCOS: MUROS DE CEUTA E MELILLA: Ceuta e Melilla são o enclave espanhol na África e representam o resquício do colonialismo europeu no continente africano. Sob o domínio espanhol, as duas cidades fazem divisa com o Marrocos e estão muito próximas do Estreito de Gibraltar, pequeno intervalo oceânico que separa os dois continentes. Até os anos 1990, a divisão entre os territórios espanhol e marroquino era pouco perceptível, e o trânsito de pessoas de um local para o outro era comum. Com a institucionalização da União Europeia e a política de livre-circulação dos cidadãos europeus, a Espanha foi incentivada a apertar o cerco em suas zonas fronteiriças. Assim, foram erguidos os muros, que chegam, juntos, a 20 quilômetros de extensão, com o objetivo de impedir a imigração de africanos para a Europa.

EUA-MÉXICO: O muro construído pelos Estados Unidos na fronteira com o México é o símbolo da política anti-imigração norte-americana. Num esforço contra os chamados “coiotes”, responsáveis por atravessar clandestinamente pessoas pela fronteira, Washington começou estabeler barreiras físicas entre as cidades de El Paso e Ciudad Juárez, e também entre San Diego e Tijuana. Com os ataques de 11 de Setembro de 2001, os EUA apertaram ainda mais o cerco, temendo que terroristas pudessem entrar em território norte-americano via México.

GRÉCIA-TURQUIA: MURO DE EVROS: A fronteira entre a Turquia e a Grécia era tida pela UE como a “porta dos fundos” para a entrada de imigrantes na Europa. Por esse motivo, a Grécia, o país europeu mais afetado pela crise econômica de 2008 e alvo de severas medidas de austeridade, resolveu investir € 3,2 milhões (R$ 10,15 milhões) para erguer em 2012 um muro de mais de 10 quilômetros de extensão ao longo de um trecho da margem do rio Evros, fronteira natural que separa a o território europeu dos vizinhos turcos.

COREIA DO NORTE-COREIA DO SUL: Percorrida ao longo do Paralelo 38, a faixa de terra que divide a península coreana em dois países tem 250 quilômetros de comprimento. Após o armistício que interrompeu sem pôr fim formal à guerra entre os dois lados — símbolo do embate entre as duas superpotências durante a Guerra Fria: o norte comunista, e o sul capitalista —, a porção de território foi transformada em uma zona desmilitarizada. Ou seja, uma faixa “neutra” onde militares das duas Coreias podem transitar, mas sem cruzar a linha que demarca o território de cada um dos países.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Laika, a primeira astronauta

Laika foi uma cadela russa que se tornou conhecida por ser o primeiro ser vivo terrestre a orbitar o planeta Terra. Ela foi lançada ao espaço a bordo da nave soviética Sputnik 2, em 3 de novembro de 1957, um mês depois do lançamento do satélite Sputnik 1, o primeiro objeto artificial a entrar em órbita. Laika é o nome russo para várias raças de cães similares ao husky, oriundas da Sibéria. Laika morreu entre cinco e sete horas depois do lançamento, bem antes do planejado. 
A causa de sua morte, que só foi revelada décadas depois do voo, foi, provavelmente, uma combinação de estresse sofrido e o superaquecimento, talvez ocasionado por uma falha no sistema de controle térmico da nave. Apesar do acidente, essa experiência demonstrou ser possível para um animal suportar as condições de microgravidade, abrindo caminho assim para participação humana em voos espaciais. Laika era uma cadela que vivia solta nas ruas de Moscou, pesava aproximadamente seis quilos e tinha três anos de idade quando foi capturada para o programa espacial soviético. Originalmente a chamaram Kudryavka (crespinha), depois Zhuchka (bichinho), e logo Limonchik (limãozinho), para finalmente chamá-la de Laika. Os cães capturados eram mantidos num centro de investigação nesta cidade, e três deles foram avaliados e treinados para as demandas da missão: Laika, Albina e Mushka.
Em 31 de outubro de 1957, três dias antes do lançamento, Laika foi colocada no Sputnik 2, no cosmódromo de Baikonur, no atual Cazaquistão. Todo mundo acreditava que o animal levava alimento suficiente e sua condição era estável, pelo que muitas pessoas estiveram esperando o regresso de Laika. Algumas pessoas aproveitaram para fazer brincadeiras: durante várias horas, a população de Santiago do Chile esteve convencida de que Laika havia caído na cidade. Os habitantes da zona suburbana viram descer um cão de paraquedas, e eles se convenceram naquele momento de que se tratava de Laika. Quando o animal chegou em terra, se comprovou que na realidade se tratava de um cão macho, e a montagem não era mais que uma brincadeira para aproveitar-se da neurose coletiva das "cadelas voadoras". 
O Sputnik 2 não estava preparado para regressar à Terra de forma segura, pelo que já se sabia que Laika não sobreviveria à viagem. Os cientistas soviéticos planejaram dar-lhe comida envenenada, que Laika consumiria depois de dez dias. No entanto, isso não ocorreu como planejado. Durante anos, a União Soviética deu explicações contraditórias sobre a morte de Laika, dizendo às vezes que a cadela havia morrido por asfixia quando as baterias falharam, ou que haviam feito eutanásia conforme os planos originais. Em 1999 fontes russas asseguraram que Laika sobreviveu pelo menos quatro dias, e depois pereceu por causa do superaquecimento da nave. 
Em outubro de 2002, o cientista Dimitri Malashenkov, que participou no lançamento do Sputnik 2, revelou que Laika havia morrido entre cinco e sete horas depois da decolagem, devido ao estresse e superaquecimento. Ele declarou, num artigo que apresentou no Congresso Mundial do Espaço em Houston: "Foi praticamente impossível criar um controle de temperatura confiável em tão pouco tempo". O Sputnik 2 finalmente explodiu (junto com os restos de Laika) ao entrar em contato com a atmosfera, em 14 de abril de 1958, após 163 dias e 2570 órbitas em volta da Terra.
Fonte: Wikipedia

sábado, 30 de agosto de 2014

O mito da democracia racial no Brasil

O mito da democracia racial no Brasil

por Joseh Silva  publicado 29/08/2014 14:06
É falso afirmar que o Brasil não é um país racista. Viver nesta afirmação não se trata somente de “tapar o Sol com a peneira”, mas de continuar permitindo um quadro social que favorece uma população de elite e branca, ou, pelo menos, de pessoas que se identificam com isso.
Não é necessário nem citar dados para concluir que o racismo está estampado em nossa bandeira: basta ver a situação dos negros a revelar que o racismo é institucional e estruturante da nossa sociedade. A partir disso, não podemos usar uma pontualidade como fato principal. Apesar de gravíssima, a atitude da torcedora do Grêmio, que foi flagrada pelas câmeras de tevê chamando o jogador Aranha, goleiro do Santos, de macaco, que deve ser responsabilizada, nada mais é do que um efeito colateral.
Negros são maioria no país e, em disparada, a maior população carcerária. São vítimas de um genocídio perene e banalizado. Vivem em favelas e periferias em condições subumanas. O acesso ao serviço público é ruim. Diariamente, são agredidos pelo Estado de farda e por uma mídia fascista.
Negros e negras sofrem com ataques racistas há gerações. Já passou do momento de acontecer, no mínimo, uma reparação integral. A estigmatização é uma arma muito poderosa, pois fortalece o preconceito, baixa a auto-estima de um povo e minimiza os efeitos de uma diáspora.
O racismo é uma prática institucional exposta nesta pátria amada. A primeira cena que presenciei foi ainda muito cedo, acredito que tinha por volta de 12 anos. Eu, meu irmão e um amigo. Saímos de casa com trajes para uma partida de futebol na quadra de uma escola. Para chegar até lá, tínhamos de ir até a outra ponta da favela. No meio do caminho, nos deparamos com quatro policias que apontavam suas armas em direção a cada beco e viela.
Quando eles nos viram, falaram baixinho para pararmos. Assutados, congelamos. Um policial pediu para meu irmão e eu, que temos o tom de pele mais claro, sairmos e seguraram nosso amigo, que foi agredido física e verbalmente.
Esse tipo de prática seletiva acontece todos os dias dentro das favelas, e o País segue na farsa do “ninguém sabe, ninguém viu”. Mesmo com casos explícitos que tomam o cenário nacional, como Cláudia Ferreira, mulher negra, pobre e moradora do subúrbio do Rio, que depois de baleada, foi arrastada por uma viatura da Policia Militar, num ano de Copa do Mundo, momento em que o País é vitrine e as forças amardas mandam um recado para a população negra e pobre. Cena que remete à captura de um escravo por capitães do mato.
Enquanto os efeitos colaterais do racismos institucional aumentam, práticas que transgridem leis e violam direitos humanos parecem não causar indignação e colocam em questão a atuação da justiça quando se trata de negro e pobre. Racistas não prendem racistas a não ser para salvar o próprio racismo.

Link da reportagem:

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Terrorismo na Nigéria - Boko Haram


As ações do grupo Boko Haram na Nigéria

Por Karine V. C. do Vale*

Boko Haram, grupo fundamentalista islâmico, atua desde 2002 no norte da Nigéria utilizando de métodos terroristas. Sua ideologia condena o ensino ocidental às mulheres, que segundo a sua concepção devem ser apenas servas. Seus ataques ocorrem em grande parte no sul do país onde a maioria é cristã e ensina as mulheres o oposto de seus ideais.
As ações horrendas do grupo só têm sido mostradas pela mídia neste ano, porém, desde 2009 empreendem uma forte campanha de ataques armados, atentados e sequestros. Em 2011 os ataques se intensificaram em várias cidades sendo utilizadas bombas em igrejas que realizavam missas após o natal. Em 2013, vestidos de militares interromperam o tráfego e ordenaram a saída dos veículos assassinando várias pessoas. Nove dias depois atacaram uma universidade e mataram cerca de 50 pessoas.
No ano de 2014 ataques ocorreram sucessivamente e em massa. Em janeiro dispararam contra uma vila e contra uma igreja. Em fevereiro atearam fogo a uma escola com todos que estavam no local. Em março atacaram uma aldeia, incendiaram e atiraram nos fugitivos. Em abril o sequestro de 276 meninas estudantes que seriam vendidas como esposas gerou manifestações contra o governo que se mostrou incapaz de responder às ações, ainda de acordo com o G1 boa parte das sequestradas foram expostas a abusos a todos do grupo. Atos como esses se repetem todos os dias sendo calados e ocultados.

Aluna do 9º Ano do Ensino Fundamental do Col. Est. Prof.ª. Iara Bergmann
Pesquisa desenvolvida nos site da BBC/G1/Veja/GNews/Wikipedia

Leia neste blog:
A culpa pelo fracasso na educação!
Nunca discorde de um revoltado na Internet
http://geopesca.blogspot.com.br/2014/08/geografia-virtual-e-sociedade.html

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Opep - Países exportadores de Petróleo


A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) foi criada na Conferência de Bagdá no dia 14 de setembro de 1960. É uma organização intergovernamental permanente, objetivando administrar de forma centralizada a política petroleira dos países membros. A sede da Organização dos Países Exportadores de Petróleo entre 1960-1965 foi em Genebra, na Suíça, no entanto, foi transferida para Viena, na Áustria, em 1º de Setembro de 1965. 

Os primeiros países membros da Opep foram: Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela. Posteriormente outros países integraram a Opep: Catar (1961); Indonésia (1962) - que suspendeu a sua adesão em janeiro de 2009, Líbia (1962), Emirados Árabes Unidos (1967), Argélia (1969), Nigéria (1971), Equador (1973) - que suspendeu a sua adesão de dezembro de 1992 a Outubro de 2007, Angola (2007) e Gabão (1975-1994).

A Opep atua como cartel dos principais exportadores de petróleo, controlando o volume de produção, com o objetivo de alcançar os melhores preços no mercado mundial. É responsável por desenvolver estratégias geopolíticas na produção e exportação do petróleo, além de controlar os valores nas vendas do produto.

Atualmente, os países membros da OPEP possuem aproximadamente 75% das reservas mundiais de petróleo, sendo responsável pelo abastecimento de 40% do mercado mundial.

A formação da Opep promove a valorização do petróleo, proporcionando maior lucratividade para os países membros. Esse fato ocorre em razão da manipulação da produção, pois são estabelecidas cotas de produção, diminuindo a oferta, consequentemente, há a elevação dos preços.

Com a descoberta da camada pré-sal no Brasil, a produção de petróleo poderá triplicar. Caso sejam confirmadas essas estimativas, o país estudará uma possível solicitação de participação na Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

Por Wagner de Cerqueira e Francisco
Graduado em Geografia
Equipe Brasil Escola


terça-feira, 1 de abril de 2014

Coreia do Norte

COMO ENTENDER PYONGYANG?

Desenvolver a economia e o Exército, esse é o objetivo oficial de Kim Jong-un, no comando da República Democrática Popular da Coreia desde dezembro de 2011. Por ora, ele multiplica provocações, enquanto manobras militares de Seul e Washington na costa norte-coreana atiçam as tensões

Mais uma vez, a República Democrática Popular da Coreia (RDPC) deixa o resto do mundo sem fôlego: onda de ameaças – ataques nucleares aos Estados Unidos, rejeição do armistício de 1953, uma inevitável “Segunda Guerra da Coreia” – e baterias de mísseis apontados para o Japão e para a base norte-americana de Guam. Desde meados de março, a propaganda norte-coreana intensificou-se, e os meios de comunicação internacionais, ao difundir com complacência esses arroubos belicosos sem medir quais são realmente as ameaças verossímeis, propiciaram que essa propaganda ecoasse de forma desmedida, para a grande satisfação da capital Pyongyang.

Depois da frequente confrontação de George W. Bush, os Estados Unidos voltaram a apostar em uma estratégia mais contida com Barack Obama. Mas é necessário reconhecer o fracasso dessa política, assim como a do presidente sul-coreano Lee Myung-bak, que até fevereiro pensava exercer algum poder sobre Pyongyang. A situação tornou-se infinitamente mais complexa do que há quinze anos.
Sem dúvida, os objetivos da Coreia do Norte não são os mesmos de 1998, quando lançou um míssil equipado com satélite (mesma tecnologia de um míssil de longo alcance) contra o Japão, que caiu no Pacífico. A administração Clinton recuou com sua política e, em outubro de 2000, a secretária de Estado Madeleine Albright visitou Pyongyang. Na ocasião, chegou-se a cogitar uma visita do próprio presidente. Contudo, Bush varreu as iniciativas de seu predecessor.
Desde então, a RDPC realizou três testes atômicos, em 2006, 2009 e 2013, e se proclama uma potência nuclear. Dispõe de estoques de plutônio e de um programa de enriquecimento de urânio de capacidades balísticas. Na reunião do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores, em 31 de março, Kim Jong-un precisou: “As armas nucleares não são uma moeda de troca para obter dólares. A RDPC não renunciará jamais [ao desenvolvimento de tais armas] enquanto persistir a ameaça nuclear dos imperialistas”. Assim, Pyongyang elevou a barreira para futuras negociações.
Aos 30 anos, Kim Jong-un, segundo herdeiro do clã dos Kim, levado à liderança do regime após a morte de seu pai, Kim Jong-il, em dezembro de 2011, parecia conferir uma imagem mais amena ao país – que mantém cerca de 200 mil prisioneiros em campos de trabalho, segundo organizações humanitárias. Um ano após ter ganhado plenos poderes (primeiro secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, primeiro presidente da Comissão Nacional de Defesa, marechal e comandante-chefe do Exército Popular), no entanto, ele desencadeou uma ofensiva de rara virulência, com o lançamento de um satélite em dezembro e um teste nuclear em fevereiro, ambos condenados pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
Jong-un estudou durante cinco anos em um liceu na Suíça e por essa experiência no exterior sem dúvida se tornou mais consciente do que a velha geração sobre a necessidade de reformas. Contudo, permanece fiel à via traçada desde a década de 1990: “um país forte e próspero”, fórmula que busca conciliar desenvolvimento e força militar. Com algumas nuances lexicais, a mesma fórmula foi, no século XIX, a ambição do Japão na era Meiji (“país rico, Exército forte”) perante a ameaça estrangeira. Na Coreia do Norte, os dois objetivos são dificilmente conciliáveis: a “prosperidade” supõe reformas, mas em particular a abertura e o auxílio estrangeiro, sob a forma de assistência tecnológica e investimentos. Os Estados Unidos e seus aliados, nesse contexto, se recusam a cooperar com Pyongyang enquanto a capital representar uma ameaça.
Ao tomar a linha de frente, o regime norte-coreano abalou o status quo: colocou em discussão a “paciência estratégica” de Washington, reforçou as sanções internacionais que estrangulam o país e agudizou seu isolamento até em relação à China, que, apesar de ajudar o país economicamente, engrossa o coro das condenações internacionais. Ao desafiar os Estados Unidos e seus aliados, o terceiro teste nuclear representa também uma afirmação de soberania com relação a Pequim.
Ao dispor de uma força de dissuasão, a RDPC se considera protegida de um ataque nuclear – ameaça de Washington pelo menos em cinco ocasiões. Dessa forma, o governo passou a justificar seu regime e os sacrifícios pela necessidade de tornar o país invulnerável e garantir a independência como um objetivo sagrado, e por isso tem amplo respaldo da população. Portanto, uma renúncia a essa arma – única conquista da era Kim Jong-il – parece improvável.
A obstinação da RDPC em se fazer reconhecer como potência nuclear pelo resto do mundo e sua aparente recusa diante de qualquer transição pós-totalitária se baseiam em um nacionalismo exacerbado. Esse aspecto do país se inscreve menos na história da bipolaridade – que desapareceu com o desmoronamento do bloco soviético – do que na do pós-colonialismo.
Na Europa, a Guerra Fria foi, na realidade, uma época de paz. Na Ásia, na península coreana e no Vietnã, foi um período de enfrentamentos armados vividos como prolongamentos das guerras de libertação. Na RDPC, a propaganda reaviva a memória sublimada da “gloriosa luta” dos partidários reunidos atrás de Kim Il-sung contra a ocupação japonesa – fundamento da legitimidade do regime − e localiza sistematicamente a situação atual no contexto da luta contra o imperialismo.
Após o fim da URSS, os temas recorrentes do pós-colonialismo – independência, soberania nacional, solicitações de reconhecimento – ressurgiram com força, acentuando no seio da população uma mentalidade de país permanentemente invadido. Ao fazer a Coreia do Norte figurar no considerado “eixo do mal”, e em seguida atacando o Iraque, Bush reforçou esse sentimento de ameaça. Atual potência nuclear, a RDPC jamais terá o mesmo destino do Iraque, martela a propaganda.
De qualquer forma, a situação geopolítica é diferente: a proximidade do país com a China impossibilita uma intervenção militar. Pequim, de fato, pretende evitar qualquer instabilidade que possa levar a uma reunificação da península “à força”, sob o comando do Sul, com o apoio das Forças Armadas norte-americanas em sua fronteira. Em caso de guerra, a RDPC certamente perderá, mas não sem causar terríveis estragos ao Sul, sem mencionar ao Japão. E, nesse caos, o que aconteceria com as armas nucleares ou os estoques de plutônio dos quais dispõe? Esse risco deveria ser suficiente para incitar outra forma de abordagem do problema que recorrer a sanções e boicotes.

Philippe Pons.
1 de maio de 2013
Le Monde Diplomatique. Disponível em: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1408>