Por Eric Hobsbawm
No
século XX é inegável que surge uma nova impessoalidade da guerra, que tornava o
matar e estropiar uma consequência remota de apertar um botão ou virar uma
alavanca. A tecnologia tornava suas vítimas invisíveis, como não podiam fazer
as pessoas evisceradas por baionetas ou vistas pelas miras de armas de fogo. Diante
dos canhões permanentemente fixos estavam não homens, mas estatísticas – nem mesmo
estatísticas reais, mas estimativas hipotéticas.
Rapazes
delicados que certamente não iriam enfiar uma baioneta na barriga de uma jovem
aldeã grávida podiam com mais facilidade jogar altos explosivos sobre populações
civis.
As
maiores crueldades de nosso século foram as crueldades impessoais decididas a
distância, de sistema e rotina, sobretudo quando podiam ser justificadas como
lamentáveis necessidades operacionais.
Assim
o mundo acostumou-se à expulsão e matança compulsórias em escala astronômica,
fenômenos tão conhecidos que foi preciso inventar novas palavras para eles: apátrida,
genocídio.
Trecho
adaptado de “A era dos Extremos – O breve
Século XX” - pág. 57
Alice In Chains - Rooster
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