quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A impessoalidade da guerra


Por Eric Hobsbawm

No século XX é inegável que surge uma nova impessoalidade da guerra, que tornava o matar e estropiar uma consequência remota de apertar um botão ou virar uma alavanca. A tecnologia tornava suas vítimas invisíveis, como não podiam fazer as pessoas evisceradas por baionetas ou vistas pelas miras de armas de fogo. Diante dos canhões permanentemente fixos estavam não homens, mas estatísticas – nem mesmo estatísticas reais, mas estimativas hipotéticas.
Rapazes delicados que certamente não iriam enfiar uma baioneta na barriga de uma jovem aldeã grávida podiam com mais facilidade jogar altos explosivos sobre populações civis.
As maiores crueldades de nosso século foram as crueldades impessoais decididas a distância, de sistema e rotina, sobretudo quando podiam ser justificadas como lamentáveis necessidades operacionais.
Assim o mundo acostumou-se à expulsão e matança compulsórias em escala astronômica, fenômenos tão conhecidos que foi preciso inventar novas palavras para eles: apátrida, genocídio.

Trecho adaptado de “A era dos Extremos – O breve Século XX” - pág. 57

Alice In Chains - Rooster

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